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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A pior idade

Idade é um troço muito esquisito. E relativo... Quando a gente é criança, qualquer pessoa maior do que nós, é grande, não importa a idade. Que o digam as garotas e garotos que esticam de uma hora para outra e não se encaixam mais nas brincadeiras com velha turminha porque é grande; e nem no grupo dos mais velhos, que os consideram ‘criança demais’. Aí começam as frustrações em relação à tal da idade...
Na adolescência, quem tem 13 inventa que já ocupa a faixa dos 15; quem atingiu esse patamar, sonha com a independência dos 18... e quem chegou lá espera com ansiedade os 21... Daí pra frente a coisa pega!
Na faixa dos 20 começam a pintar as responsabilidades... De uma hora para outra, a gente tem que decidir o que vai fazer com o que se rotulava de ‘vida inteira pela frente’ e escolher o que você vai ser, já que cresceu. Não vale mais flutuar entre as mais diversas profissões no período de uma semana. Tem que optar, escolher, decidir... Aí, a gente escolhe, meio na sorte; salvo aqueles casos em que a pessoa nasce com um dom natural para seguir uma determinada profissão, caso muito comum com médicos. De resto, é sacar a matéria que mais detesta (para muitos, a pobre da matemática!!!) e descartar todas as profissões que fazem uso dela. Depois, descobrir as maiores afinidades e escolher o que mais se encaixa em seu perfil (ah!... essa palavrinha simples que até então significava apenas que você saiu de lado em uma foto, ganha significado assustador daqui pra frente). Simples assim!
E a gente escolhe... estuda, aprende, compreende, vislumbra um futuro brilhante e antes mesmo de se formar vai à luta em busca de um estágio e... cai em uma selva impiedosa chamada de ‘mercado de trabalho’.
No começo é tudo lindo. Então começamos a descobrir que, em boa parte das vezes, a teoria na prática é outra e que há gente de todo o tipo em qualquer lugar onde se vá trabalhar. Os amigos de fachada (aqueles que aparentemente estão te ajudando a se adaptar mas que, na verdade, estão mesmo é tentando puxar o seu tapete com um sorriso estampado no rosto – esse tipo é muito comum!), os sacanas assumidos (mais fáceis de lidar), os medíocres (que invejam a sua criatividade e só sossegam quando se vêm livres de você) e, é claro, os amigos de verdade que continuam na caderneta de telefones (ou lista de email) pro resto da vida, mesmo quando passam anos sem que a gente troque ao menos um alô.
No começo pode parecer um pouco assustador, mas com o tempo a gente se adapta e encara tudo isso com naturalidade; é parte do que chamamos de experiência profissional. E vamos acumulando essa tal experiência na esperança de que lá na frente ela seja de grande valia (é mais inteligente e prático tentar acumular dinheiro, vai por mim).
Na casa dos 30, a bagagem já é maior e há um pouco mais de respeito pelo seu trabalho, afinal você ‘sobreviveu’ à prova de fogo que é o início de carreira. Pode comemorar porque é uma década de realizações... Estamos ‘construindo’ o nosso futuro... Tudo caminha como o planejado. Experientes e respeitados entramos triunfantes nos 40. Aproveitem, e muito os próximos 10 anos... Faça o possível e o impossível (sem perder a integridade é claro) para conquistar uma estabilidade porque, ao romper a casa dos 50, profissionalmente, você pode entrar no verdadeiro ‘inferno astral’, ou seja, o período que eu chamo de ‘pior idade’...
Concordem ou não, os fatos falam por si. Até os 49 anos, 11 meses e 29 dias, somos rotulados de ‘experientes’; completamos 50, estamos velhos, ultrapassados, desatualizados... Se ficar algum tempinho fora do mercado, então, aí é que a coisa desanda mesmo...
Pra conseguir um emprego, só se tiver um Q.I. elevadíssimo; o famoso ‘quem indica’, e mesmo assim, olhe lá... Se tentar enviar currículo, entrar em ‘bancos de talentos’ pra conseguir ao menos uma oportunidade de entrevista, as chances são menores ainda... A tal da idade pesa na seleção... Omitir esse dado ou corrigir para menos o ano do nascimento é uma tentação... afinal, a gente sabe que se garante em uma entrevista... Quer dizer... se o entrevistador for do ramo. Por que hoje em dia é mais comum do que se imagina, a seleção de pessoal ser feita por alguém que não tem a menor idéia de como funciona o departamento onde você pretende trabalhar... Ah... e tem mais, se você não conhece os softwares mais modernos do mercado (mesmo que não tenha nada a ver com a sua profissão), se não fizer parte de todas as redes sociais e não tiver – no mínimo um blog (a razão de ser deste espaço aqui é uma tentativa), é descartado... Tem que, pelo menos saber que eles existem e para o que servem... é básico para quem procura uma recolocação. E mais, no caso de uma entrevista com aquele que será o seu chefe, torça para que o fulano(a) não seja mais novo do que você... Se for, pode dar adeus à vaga... ele(a) vai te dispensar, por mais qualificado que seja, por que tem medo de perder o posto para você (memo que você deixe claro que seu único interesse é trabalhar, quietinho, no seu cantinho solitário)...
Não tem jeito, você é cinqüentão e, mesmo que não aparente a idade real, não serve mais... Nem se aposentar não pode. Por mais que carregue nas costas 30 anos de trabalho, se quiser garantir um mínimo para a sobrevivência tem que esperar a idade avançar mais um pouco. Para a previdência, você ainda tem muito a oferecer ao mercado... Aposentadoria, só depois dos 60... Só esqueceram de avisar aos empregadores...
Não temos emprego, não temos aposentadoria. Somos velhos para o primeiro e moço para a segunda... E estamos a alguns anos de conquistar os poucos privilégios tardiamente concedidos à chamada ‘melhor idade’ (detesto o termo terceira idade, acho depreciativo)... ônibus de graça, assentos reservado (quando os mais jovens respeitam as indicações, claro), prioridade de atendimento (o que, necessariamente não significa filas mais rápidas; ao contrário, em alguns bancos a fila dos ‘idosos’ é sempre mais demorada)...
E então? É ou não é a pior idade?...

Um comentário:

  1. Adorei o texto Ira, estava com saudades de ouvir suas idéis e perspectivas de vida. Parabéns pelo Blog. Um Abraço.

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