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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Aprendi com meu pai...

No próximo domingo comemora-se o Dia dos Pais, então decidi usar esse espaço para homenagear o meu pai, que se foi há anos mas que continua ao meu lado nessa minha jornada.
Eu costumo dizer que meu pai foi uma pessoa que estava à frente do seu tempo. Democrata na essência da palavra, nunca foi repressor, controlador, autoritário. Ao contrário. Sereno e pacificador são adjetivos que o descreveriam bem. Com fala mansa e argumentos precisos, jamais me disse um ‘não’ puro e seco. Caso a resposta a qualquer pedido ou indagação fosse negativa, sempre havia uma explicação clara e objetiva. Assim, o que seria uma frustração se transformava em compreensão.
Mas, a primeira grande lição que aprendi com ele, ainda bem pequena, foi que confiança se conquista e, quando se perde, é para sempre. Que somos livres; mas que a liberdade carrega, como sombra, a responsabilidade. Que todos somos iguais e temos direitos; mas que o direito de um termina exatamente onde começa o direito do outro. E que a mentira ‘tem pernas curtas’ e jamais se sustenta frente à grandeza da verdade.
Meu pai foi o meu orientador. Em nossas conversas – sempre longas e prazerosas – ele contava sobre suas experiências, suas idéias, seus ideais e seu constante aprendizado por que há sempre e muito a aprender, a descobrir.
Meu pai nunca me disse – faça isso, faça assim, vá por aqui, aja dessa maneira. Em meus momentos de dúvidas, ele apenas ponderava; abria meus olhos para que eu conseguisse ver todos os lados da questão, para que eu analisasse os prós e contras e decidisse – sozinha – o que era melhor para mim. Nesses momentos ele me fazia entender que somente eu poderia escolher o meu caminho; porque o que é bom para um, pode não ser para outro.
Nessa lição eu aprendi que não há um caminho certo; um caminho totalmente seguro – aquele idealizado, amistoso; florido e ensolarado, sempre . Seja qual for a trilha que escolhemos ela sempre vai nos apresentar surpresas; umas agradáveis e gratificantes, outras perigosas e assustadoras. Estar preparado e saber agir com sabedoria, em qualquer situação, é a receita para seguir a sua jornada e chegar – seja lá onde for – inteiro, íntegro. Afinal, não se caminha sobre o prado o tempo inteiro. Há montanhas a escalar e penhascos a desafiar a sua coragem. Prepare-se, também, para escorregões sem muita importância, e tombos homéricos – ninguém está livre deles. Nesse caso, levante rapidamente e siga. Enfrente a dor das escoriações; elas não duram para sempre. Nunca perca a ternura e mantenha a doçura no coração. Foi assim que ele viveu.
Por fim, a grande lição que meu pai me ensinou foi que não há o que valha a pena, se o preço a pagar for abrir mão de seus valores, da sua integridade.
Quando ele se foi, eu me senti completamente perdida; sem chão, sem farol. Então descobri que eu ainda tinha asas e possuía olhos de lince. O que eu sou, em essência, é resultado de tudo o que meu pai me ensinou, desde muito cedo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Politicamente correto?

Essa história de ‘politicamente correto’ está ficando muito chata! E sabe por que? Porque as pessoas estão intolerantes; perderam o humor e a capacidade de distinguir uma brincadeiro de uma ofensa. E por conta disso alguns se acham no direito de tentar proibir o que os incomoda.
O caso mais recente vem do Conar. O órgão, que regula a veiculação de propagandas, abriu um processo contra a Nissan e pode tirar o filme ‘Pôneis Malditos’ do ar (na TV e na Internet). A origem do processo está na associação dos pôneis, classificados como ícones infantis, com a palavra malditos! Foram perto de 30 reclamações! E, por conta delas, o comercial, acessado por mais de 3,5 milhões de pessoas no Youtube, está na berlinda! É demais! É muita falta de humor. É censura! É ditadura de uma minoria que acha que pode ‘regular’ o pensamento geral baseada em suas crenças e preconceitos individuais. E o que é pior, essa gente se acha ‘politicamente correta’! Chega!
O politicamente correto deveria ser apenas o que é: uma opção de comportamento baseada em respeito incondicional ao próximo. Mas, por conta dessas ‘patrulhas’ está virando uma ditadura de minorias e ultrapassando a linha do bom senso.
Hoje em dia ser politicamente correto é quase uma exigencia, e das mais radicais. Exigência que está restringindo o humor, provocando autocensura, acabando com a criatividade e gerando um policiamento de idéias bem pouco saudável.
Não se pode mais usar palavras que transmitam qualquer tipo de preconceito ou discriminação; não se pode brincar com as diferenças; não se pode fazer piada de nada. Quem se atrever que se prepare porque vem chumbo grosso! Com certeza será taxado de preconceituoso, discriminador, intolerante, etc. E aí é que cabe a pergunta: rotular o outro baseado apenas em uma brincadeira bem humorada é politicamente correto?
Afinal, ser politicamente correto é respeitar toda e qualquer pessoa como aquilo que essencialmente ela é: um ser humano único e íntegro, idependente de sexo, raça, cor, posição social, profissional, ou opção sexual, política e religiosa. É tratar o outro como gostaríamos de ser tratados. Simples assim!
Preconceito, seja qual for, é injustificável. Mas, não são só palavras ou expressões que geram discriminação; muitas vezes é a atitude que demonstra isso. Um olhar ou um gesto pode ser muito mais preconceituoso e excludente do que mil palavras.
Só que, em nome de minorias tidas como excluídas, formou-se um exército de patrulheiros que anda atirando para todos os lados, provocando distorções e tentando acabar com um bem pra lá de precioso: a liberdade de expressão.
Dizer, por exemplo, ‘hoje eu ajudei um ceguinho a atravessar a rua’, não pode. Utilizar a palavra ‘cego’ é discrimiação preconceituosa. Se fizer isso, será taxado de politicamente ‘incorreto’, independente da atitude solidária. O ‘correto’ é dizer deficiente visual, mesmo se você deixar de ajudá-lo a atravessar a rua.
O ‘patrulhamento’ é tão ferrenho que nem os clássicos infanto-juvenis de Monteiro Lobato escaparam. Identificaram em seus livros, especialmente em ‘As Caçadas de Pedrinho’, ‘referências racistas’. Até personagens do folclore nacional estão sendo enquadrados. O ‘Saci Pererê’ é um deles. Coitadinho, além de negro, é perneta e, pecado maior: fuma cachimbo. Não pode! Tem que ser remodelado; ganhar uma perna, de madeira que seja, e – é claro – abolir o nefasto pito. Depois dele, provavelmente o próximo alvo será o ‘Negrinho do Pastoreio’, cujo nome ‘politicamente correto’ deveria ser ‘O pequeno afro-descendente do Pastoreio’.
Se continuar nessa balada, logo mais o clássico infantil ‘Branca de Neve e os 7 anões’ passará a se chamar ‘Branca de Neve e os 7 homens de pequena estatura.’ Ah, e o Cebolinha que se cuide porque se continuar chamando a Mônica de ‘dentuça’ pode ser punido por bullying!
O que acontece é que estão levando tudo muito ao pé da letra sem diferenciar o humor da agressão. Quando se tem de pensar duas vezes antes de fazer uma brincadeira ou emitir uma opinião a espontaneidade criativa vai embora e tudo fica muito chato.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aonde vamos parar?

Nos últimos dias, as notícias que povoaram jornais, revistas, rádio e TV me deixaram meio atordoada. Diante de tantos descalabros eu me pergunto: aonde vamos parar? Ética, moral, honestidade, justiça perderam o significado? São apenas palavras? Vivemos realmente a era de impunidade geral? Leis e tratados são apenas documentos que se ‘moldam’ de acordo com o interesse pessoal de alguns que se julgam acima do bem e do mal? Não sei... Aliás eu não sei de mais nada.
Não bastaram a prisão dos bombeiros cariocas e a liberdade do condenado italiano, a ‘coisa’ tinha que piorar...
E piorou... Eu quase cai da cadeira quando vi e ouvi um advogado – que defende um dos suspeitos do assassinato daquele jovem estudante de 24 anos, na USP – dizer, na maior ‘cara dura’ que seu cliente não iria entregar o parceiro porque ‘quem é do crime tem ética... todas as profissões têm ética’!... ‘Peralá’... Ética?... Desde quando bandido tem ética? E, ser criminoso virou profissão? Isso, vindo de um advogado é mais do que lamentável, é chocante!... O bandido em questão confessou ter participado do assassinato do estudante, mas alegou que foi seu companheiro quem atirou. Como se apresentou, não tem antecedentes criminais e tem endereço fixo, vai responder ao processo... em liberdade! Essa é a nossa justiça (com minúscula mesmo).
Achou que para por aí? Engano... Teve mais... E veio da Bolívia a notícia até então inimaginável.
O presidente Evo Morales, isso mesmo, o presidente, baixou uma lei que vai legalizar cerca de 200 mil carros irregulares. Até aí, tudo bem. Acontece que esses veículos, automóveis e caminhões, foram todos contrabandeados e são frutos de roubos nos países vizinhos, Brasil inclusive e principalmente!!!
Segundo o Sr. Morales, a legalização é muito justa afinal essa é a ‘única alternativa para os pobres que compram veículos sem documentos porque são mais baratos... e eles, como todos, têm direito de ter o seu carro.’ Que bonzinho que é esse presidente, não? Acontece que roubo e contrabando são crimes e uma atitude desse nível, pra mim, nada mais é do que cumplicidade.
E mais... e o direito de quem comprou, pagou e teve a sua propriedade roubada – muitas vezes com violência? Não interessa, né? O que importa é que os ‘pobres’ bolivianos têm direito a um ‘carrinho’, seja qual for a procedência. A que ponto chegamos!...
Agora me diz: diante de todas essas notícias quem é que não fica atordoado, né não? Ou eu fiquei maluca ou tem muita coisa fora de ordem...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O que mais podemos esperar, sr. Haddad?

Eu juro que não acreditei no que vi... Dei até uma piscada mais prolongada e limpei as lentes dos óculos antes de ler outra vez. Mas era real. Estava lá, na manchete da página do jornal: ‘MEC gasta R$ 13,6 mi com 7 milhões de livros para ‘ensinar’ que 10-7=4’(O Estado de S. Paulo, pág. A26, edição de 4/06/2011).
E não para por aí. Os cadernos de matemática da coleção ‘Escola Ativa’ ensinam que 16-8=6 e 16-7=5... Inacreditável!
A tal coleção, com 35 volumes, foi distribuída nas escolas da zona rural que reúnem, em uma mesma sala, alunos do 1ºao 4º ano do ensino fundamental.
Não bastam as condições precárias dessas escolas? O material didático distribuído pelo MEC não deveria ser mais bem cuidado? Antes da publicação, os livros não foram revisados? Quando foram entregues com erros tão grotescos não deveriam ter sido devolvidos para que houvesse correção? Mas não...
Não só foram recebidos e pagos, como distribuídos... Quase um ano depois (pois é, a coleção chegou às escolas no segundo semestre de 2010!) é que alguns ‘iluminados’ de uma dessas ‘comissões’ lotadas de ‘aspones’ perceberam as aberrações. Mas, pior que isso são as explicações do ministro da Educação. Segundo Fernando Haddad ‘houve uma falha de revisão’... ‘mas como esse é um material de uso opcional, não comprometerá o ensino’...
Com todo o respeito, Sr. Ministro, dá um tempo! A ‘coisa’ não é tão simples assim. Não basta recolher os livros ou mandar interromper o seu uso, ou, ainda, solicitar abertura de ‘sindicância’. O senhor deve explicações (e muitas); como titular da pasta é o responsável por tudo o que acontece em seu domínio. E olha que ultimamente as confusões oriundas do MEC não são poucas... problemas com Enem, livro que afirma que falar errado não é errado, o kit anti-homofobia... O senhor está na berlinda faz tempo e agora isso... Portanto venha a público se explicar por mais esse ‘deslize’; mas sem atentar contra a nossa inteligência, por favor.
O senhor deve explicações, sim. Em respeito aos alunos e professores atingidos, e aos contribuintes que, como eu, pagam impostos altíssimos, lotam os cofres públicos e esperam, no mínimo, o bom uso desse dinheiro. Afinal foram mais de R$ 13 milhões jogados no lixo... E, caso o senhor não seja capaz de explicar o inexplicável, que tome outro rumo na vida. Porque a educação é o pilar mestre na formação de um país de verdade. É através da educação que se conquista a cidadania, a soberania e a liberdade. E o mínimo que se espera de um ministro da Educação é que trabalhe com muita disposição para melhorar e aprimorar a formação das crianças e jovens desse país, e não o contrário.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O fim da Eldorado FM

A Eldorado FM será despejada de seu tradicional endereço no dial nos primeiros minutos do próximo domingo. Na data, 27 de março, toma posse dos 92,9 a rádio Estadão ESPN, com notícias e esportes 24 horas por dia.
A tão conceituada FM musical será hóspede nos 107,3 e ‘ganha’ até sobrenome: Eldorado Brasil 3000 (???). Uma parceria estranha que, provavelmente, desagradará a gregos e troianos. Além disso, a freqüência da atual Brasil 2000 nunca foi um exemplo de potência. O sinal é fraco e mal cobre a cidade inteira.
É o começo do fim da Eldorado FM! Afinal, quanto tempo vai durar essa ‘fusão’? Dois, três, cinco anos? E depois?
Quem não vive na capital paulista e lê esse blog merece uma explicação. Eu tenho uma relação de amor profundo com a Eldorado FM. Talvez, por isso, é difícil escrever esse texto; há uma carga grande de emoção em jogo e são tantas as histórias... Mas vamos lá tentar dar uma visão geral do assunto.
No começo dos anos 80, a Eldorado era totalmente inexpressiva no cenário FM de São Paulo. Era, até o João Lara Mesquita assumir e dar início à transformação. Com intuição aguçada, dedicação total, trabalho minucioso, muita competência, driblando problemas técnicos e dificuldades financeiras, ele ‘levantou’ a FM. Aos poucos a Eldorado foi conquistando seu espaço e se firmando como uma rádio inovadora, diferente, produzida. Não demorou para ganhar prestígio e respeito.
Eu trabalhei na Eldorado FM; comecei por lá em 1987, após mais de 8 anos de Bandeirantes. Foi uma experiência que marcou minha carreira. Na época, a rádio, já estruturada, lapidava os seus diferenciais: qualidade musical, excelência da locução (alguns dos melhores profissionais do mercado passaram por lá) e criatividade, muita criatividade.
A equipe, sob o comando do João, era enxuta, coesa e super integrada. Um time, no melhor sentido da palavra, com objetivo bem claro: fazer uma rádio com personalidade e estilo. Elegante, mas sem deixar de ser descontraída, alegre e jovial.
Ousada, a FM abriu espaço para uma série de esportes bem pouco divulgados pela mídia em geral: trial, enduro, balonismo, canoagem, rali, provas de off-shore (só para citar alguns) e, iatismo: sua marca registrada. A Eldorado acompanhava todas as grandes competições de dentro dos veleiros e, depois, levava aos ouvintes cada movimento da tripulação – a adrenalina da largada, o trabalho à bordo, as trocas de velas, o planejamento estratégico, enfim tudo o que acontece durante uma regata.
Na época, a rádio não dispunha de equipamentos de ponta ou facilidades tecnológicas, mas isso nunca foi uma barreira à imaginação e à realização. Ao contrário, os desafios eram um estímulo a mais. Nada era impossível.
Um exemplo: sem celular, laptop ou qualquer outra parafernália existente hoje, a Eldorado (leia-se João, porque ele nunca se limitou a apenas dirigir a rádio atrás de uma mesa de diretor executivo; ao contrário, sempre fez questão de ‘por a mão na massa’) fez a cobertura do rali Paris-Dakar de 1989, direto das areias escaldantes dos desertos africanos. Na raça, na marra!... E todos os momentos – divertidos, de apreensão, de alegria, de emoção – foram ao ar em uma série de programas especiais diários, durante e depois da prova. Agora, dá pra imaginar isso no fim dos anos 80? Época em que o único contato possível entre o deserto e o resto do mundo era via satélite e a preço de ouro o minuto?... Mas, demos um jeito; o nosso jeito e o trabalho foi um sucesso.
Muitas outras coberturas foram realizadas assim. Através delas (que utilizavam o som ambiente, os ‘ruídos’ de cada esporte, a emoção do momento) a Eldorado FM tentava restituir ao rádio o seu status de ‘veiculo da magia’ que, através do som, instiga a imaginação e faz cada um dos ouvintes experimentar sensações únicas e individuais.
A programação musical da rádio é um diferencial, até hoje. A Eldorado FM nunca se rendeu ao sucesso ‘fabricado’; ao contrário, a missão dos programadores sempre foi buscar a melhor música e ‘descobrir’ novos ou esquecidos talentos.
Quando eram poucos os que ‘pensavam’ em ecologia e meio-ambiente, a Eldorado já abria espaço para o assunto. Quando pouco se falava em cidadania, lá estava a marca da rádio apoiando campanhas. São tantas as realizações, não dá para falar de tudo.
Em resumo: a Eldorado FM fez escola. O trabalho diário, incansável, persistente, ousado e criativo concretizou uma marca de prestígio, que carrega um conceito de qualidade que poucas outras tem, e fixou seu endereço no dial: 92,9... Um legado, prestes a acabar.
PS.: A Eldorado AM também ‘desaparece’ no domingo; em seu lugar estréia a rádio Estadão ESPN.
(Quem quiser saber mais detalhes dessa história, procure o livro ‘Eldorado, rádio Cidadã’, de João Lara Mesquita – editora 3º Nome. Garanto que vale a pena).

segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu só queria ver a Portela...

Ontem dei uma passadinha pela rede Globo pra ver a transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Queria ver a Portela.
Fiquei impressionada com a transmissão, mas não positivamente.
É praticamente impossível acompanhar o desfile tamanho o número de interrupções de apresentadores, convidados, repórteres. Um querendo passar mais ‘conhecimento’ do que o outro. Um atropelando o outro para mostrar familiaridade/intimidade com os ‘famosos quem’... Muitas entrevistas-relâmpago do tipo: ‘estou aqui com fulano/fulana que acabou de desfilar’... e a inevitável pergunta/afirmação ‘é muita emoção, né?’... Comentários óbvios: ‘olha que lindas as cores dessa ala’... Eu to vendo! Não precisa dizer que tem amarelo, laranja, azul, verde...
Além, é claro, das explicações do enredo: ‘essa ala representa...’, ‘olha o carro que traz...’, ‘a fantasia das baianas mostra...’.
E não para por aí, tem que ‘explicar’ também a coreografia da comissão de frente e seu ‘significado’ dentro do enredo!!!! E pensar que as imagens deveriam ‘falar por si’!... Achou que acabou? Engano... transmissão que se preze tem que ter as ‘apresentações’: ‘taí o mestre da bateria...’ ‘olha aí o primeiro casal de Mestre Sala e Porta-Bandeira’... ‘essa é a rainha da bateria’ (sem falar que tem legenda na tela!!!). E tudo na base do grito, porque o som da bateria é poderoso (pena que não o suficiente para nos poupar de tanta besteira).
É tanta falação inútil que é quase impossível acompanhar a letra do samba – nem mesmo quando aparece no vídeo... Porque nessa hora, é obvio, vem mais ‘esclarecimentos’. Haja! Dá vontade de tirar o som. Aliás, com tanta tecnologia disponível, deveria haver a possibilidade de um segundo canal de som – direto da passarela, sem os apresentadores.
Eu já começo a lutar contra o sono... Tento bravamente vencer a tentação de desligar a TV, virar de lado e dormir, porque eu quero ver a Portela!
Mas o show continua deixando a desejar...
A direção de imagem é alucinada e alucinante, mal dá pra curtir alguns detalhes. É um tal de corta aqui, passa pra lá, retorna acolá, que quem está assistindo fica sem saber em que parte o desfile está. Isso sem falar dos closes nos destaques e naquele bando de ‘celebridades’ que só os iniciados na ‘arte dos barracões’ ou os seguidores de realities shows conhecem... Os realmente famosos aos olhos do mundo (e do resto do Brasil) são poucos...
Aí eu pergunto: pra que tanta explicação, por que tanto frenesi? O que interessa é ver a escola, ouvir o seu samba – se possível cantar junto- curtir o colorido do conjunto, achar bom ou ruim e torcer para que a sua preferida ganhe... Pouco me interessa o enredo – mesmo porque normalmente eles não tem pé nem cabeça (salvo quando homenageiam algum personagem). Pouco me interessa quem é quem naquele palco improvisado; deixem que eu mesma reconheça os que têm alguma relevância – caso do Paulinho da Viola, que deveria dispensar apresentação.
Na minha modesta opinião, as escolas de samba – sejam do Rio ou de São Paulo, estão pasteurizadas, mecanizadas, burocratizadas. Sai uma, entra outra e parece uma coisa só. Até os sambas são semelhantes na melodia, no andamento; tente cantar a letra de um com a música de outro, é bem provável que você consiga. Os desfiles são engessados, regrados, quase monótonos – tudo tem que ser perfeito para agradar aos juízes. Os integrantes – em número cada vez maior – perderam a espontaneidade . Alguns, passam quase correndo; outros estão tão ocupados segurando chapéus e adereços que esquecem até de se divertir na passarela; muitos nem cantam o samba.
A criatividade, a ousadia, a crítica inteligente ficaram para trás (lembra dos desfiles polêmicos do Joãosinho Trinta?). As pessoas comuns que brilhavam ao mostrar suas maestrias e habilidades se transformaram em meros coadjuvantes sem a menor importância. Perderam para as figurinhas carimbadas da mídia em geral que tomaram os postos de reis e rainhas de quem realmente tem a majestade.
Por um punhado de grana – que enriquece uns poucos e não muda nada para a grande maioria que vive o dia a dia das escolas – transformaram a mais pura manifestação da criatividade popular em um espetáculo industrializado e quase patético. Os desfiles das escolas de samba não são mais para o público em geral – seja desfilando ou pagando ingresso. Eles acontecem apenas para ser exibidos pela TV, cuja transmissão é, também, cada vez menos preocupada com o publico espectador e mais com o massagear de egos de apresentadores, repórteres e convidados especiais.
Ah... eu comecei dizendo que queria ver a Portela. Juro como tentei. Mas, diante da xaropada da transmissão, cochilei no meio do primeiro desfile, perdi a segunda apresentação e só consegui acompanhar alguns momentos da famosa escola em azul e branco.
Conclusão: o auto-denominado ‘maior espetáculo da Terra’ não passa de um show pra boi dormir!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Me rendi ao samba...

Eu nasci no ano em que Bill Halley lançou ‘Rock around the clock’ e deu início a uma revolução que mudou o cenário musical mundial.
Cresci ouvindo Beatles e Rolling Stones e curtindo o iê iê iê da Jovem Guarda naquelas tardes do domingo.
Mais tarde vivi a ilusão da possibilidade de um mundo mais justo, harmonioso e sem guerras sob o lema ‘Paz e Amor’, propagado pelo movimento hippie e embalado pelos solos da guitarra de Jimi Hendrix, a voz inconfundível de Janis Joplin, o som lisérgico do Yes, e viagens sonoras do Pink Floyd... Só para citar alguns, porque a lista é imensa.
Na trilha sonora que foi marcando cada fase da minha vida, houve espaço para o Tropicalismo de Caetano, Gil, Gal e Bethania, pra um punhado de músicas do Chico e outro tanto das do Milton e sua turma do Clube da Esquina, um pouco de bossa nova e muita coisa do Toquinho e Vinicius...
Samba?... Não, nunca me identifiquei com o ritmo. Não sou da batucada... nem da carnavalesca. Nos tempos em que eu curtia a Folia de Momo, preferia as marchinhas de ‘antigamente’...
Samba?... Nunca fez a minha cabeça... A exceção – e sempre tem! – são as músicas de Adoniran Barbosa... Essas eu gosto e sei cantar! No mais... não conheço quase nada!
Como diz a letra ‘quem não gosta de samba é ruim da cabeça ou doente do pé’... Minha cabeça não é tão ruim assim... então, sou doente do pé, mesmo. Não só do pé... das ‘cadeiras’ também. Sincronizar o vai e vem das pernas, com um remelexo de quadril, ombros e braços é demais pra mim... Não ‘rola’... Sou ‘dura’, não tenho ginga! Sabe aquela imagem de gringo sambando desengonçado? Então... eu sou um pouco pior... Talvez por isso o samba não faz parte do meu cardápio musical.
Mas,... já repararam que tem sempre um mas!... Um dia desses, passeando pelo Facebook, me deparei com um vídeo compartilhado pelo Arnaldo Duran. Curiosa, cliquei; era um samba e... eu me encantei. Revi várias vezes. Fui fisgada! Pela música, pela qualidade dos músicos e, principalmente pela interpretação impecável do cantor... que cadencia, que ritmo, que balanço, que expressão!!!!
Só que eu nem fazia idéia de quem se tratava... Declarei minha ignorância na rede e quase que instantaneamente começaram a chegar as informações.
É o Germano Mathias, sambista ‘das antigas’, nascido em São Paulo; quem o acompanha é o quinteto Preto e Branco, além de Luizinho 7 Cordas no violão, Raul de Souza no trombone e Guilherme Vergueiro no piano... A música, ou melhor as músicas, ‘Guarde a sandália dela e História de um valente’. Um show!
Show que, descobri depois, é parte do documentário ‘Ginga no Asfalto’, lançado em 2007. No DVD, além de cantar, Germano fala de sua vida e obra. Uma aula para aprendizes, como eu...
Me rendi ao samba do Germano... Não virei sambista... estou longe disso. Mas, vira e mexe me pego cantarolando...’guarde a sandália dela que o samba sem ela não pode ficar...’ Que maravilha!
Quer conferir o que me fascinou? Então experimente o link abaixo e depois me conta.
http://www.youtube.com/watch?v=87CYO_rfOhY

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Até quando seremos passivos?

Em seu artigo 196, a Constituição do Brasil garante: ‘A saúde é um direito de todos e um dever do Estado’.
Lindo! No papel, porque a realidade é bem outra.
Pagamos impostos altíssimos (é só dar uma olhada no ‘Impostômetro’ e constatar os contínuos recordes de arrecadação) e o que recebemos em troca? Desrespeito (à Constituição) e descaso (com o cidadão cumpridor dos seus deveres).
Quem depende do SUS espera meses, às vezes até mais de ano, para conseguir consultar um especialista, realizar um exame um pouco mais complexo ou uma cirurgia que não requer urgência mas que, com certeza, melhoraria – e muito – a qualidade de vida.
Quem pode, contrata plano ou seguro de saúde particular e paga mensalidades absurdas para garantir o que o lhe seria de direito: acesso a atendimento e tratamento médico.
Mas, mesmo nesses casos, às vezes não dá para escapar dessa rede de desumanidade que caracteriza a saúde pública brasileira. É o caso de pacientes que fazem uso dos chamados medicamentos de alto custo e que dependem do fornecimento do Estado (leia-se Ministério da Saúde). São portadores de doenças degenerativas, como Esclerose Múltipla, Alzheimer, entre outras; doenças reumáticas, transplantados, pacientes com câncer, cardíacos e outros males que eu nem conheço.
Esses medicamentos não estão à venda no varejo, têm preços proibitivos (o de Esclerose Múltipla, por exemplo, custa perto de R$ 6.000,00 a caixa com 15 injeções, suficientes para um mês de tratamento!) e garantem a sobrevivência com um mínimo de qualidade de vida.
Pois boa parte desses ‘remédios’ está em falta em São Paulo; pela segunda vez, em pouco mais de três meses! Fato que se repete desde que entrou em vigor uma resolução assinada pelo então ministro José Gomes Temporão (resolução/portaria GM/MS nº 2.981) que centralizou a compra no Ministério da Saúde para posterior repasse aos Estados. Até então, quando a compra era realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, o fornecimento era regular. Agora, só Deus sabe!
Além de ter que conviver com doenças assustadoras, algumas incuráveis e que projetam um futuro de incertezas, esses pacientes têm tolhido o seu direito à uma vida digna e, na medida do possível, produtiva. Porque a interrupção forçada e contínua do tratamento tem um custo. Mas quem se importa?... Perdem-se avanços conquistados a duras penas. Mas quem se importa?... Anos de tratamento são ‘jogados no lixo’... Mas quem se importa?...
Escrevo sobre o assunto com conhecimento de causa. Alguém muito próximo tem Esclerose Múltipla e há três anos se submete ao tratamento com Betainterferona. São as injeções, aplicadas em dias alternados, que garantem o controle da doença, impedindo seu avanço devastador, que provoca paralisia, cega, mata!
Em outubro último, houve interrupção forçada no tratamento, devido à falta da medicação. Foram 25 dias de angústia e medo. Por muito pouco não tivemos que ‘começar do zero’..., sem falar do risco de um novo surto da doença e as conseqüentes seqüelas irreversíveis.
E a situação se repete neste mês de fevereiro: faltam medicamentos, vários, conforme constatei pessoalmente na última quarta-feira! ... E o que é pior, não há previsão de regularização no fornecimento. Os pacientes?... Ora os pacientes!... Quem se importa.
Na verdade, trata-se de negligencia e irresponsabilidade de quem deveria zelar pelo bem estar do cidadão: o Estado, seja de que esfera for!
Mas, como nos sentimos impotentes diante da situação, nos conformamos e não fazemos nada, ou quase nada, de efetivo para reverter esse quadro. Registrar reclamação em ouvidorias públicas ou enviar emails para espaços dos leitores de jornais e revistas não resolvem mais. As respostas oficiais são sempre evasivas e os problemas se repetem.
E esse é só um exemplo do descaso com que nós somos tratados pelas autoridades constituídas.
Aos que se sentem lesados só resta a união, a consciência coletiva de que temos direitos garantidos pela Constituição e que eles devem ser respeitados, nem que para isso seja necessário acionar a Justiça. Porque, se queremos realmente um país mais justo, é preciso acordar e exercer plenamente nossa cidadania. Tomar as rédeas e reivindicar o que nos é de direito. A nossa parte nos cumprimos, então porque a outra não cumpre a dela?

P.S.: finalmente, no dia 10 de fevereiro o medicamento para Esclerose Múltipla estava disponível para a retirada mensal na Farmácia de Alto Custo da Várzea do Carmo, em São Paulo, capital. Se houve regularização na entrega de outros remédios eu não sei. Só espero que as autoridades responsáveis cumpram com o seu dever e a falta de medicamentos não vire rotina.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Embarque no próximo trem...

Embarque no próximo trem...

É impressionante como somos negligentes com o tempo.
Basta alguém dar o alerta: ‘nossa há quanto tempo!’... e pronto! Paramos, contamos dias, meses, anos e damos de cara com a realidade!!! O tempo passou, rápido demais!
E o pior ainda está por vir...
Ao remexer o baú das lembranças percebemos quanta coisa ficou para trás. Sem saber muito bem como, muito menos entender por que. Simplesmente foram ficando pelo caminho. É uma contabilidade cruel...
A gente pisca e lá se foram 5, 10, 20..., até mais, anos. Uma existência. Os bebezinhos que embalamos, cresceram. São pais, mães, profissionais bem sucedidos, donos de seus destinos... e a gente nem se deu conta.
Isso sem falar dos amigos queridos. Aqueles com os quais um dia compartilhamos segredos, sonhos, aventuras, emoções, brincadeiras inconseqüentes e até algumas irresponsabilidades, e que perdemos de vista, apesar de guardados num cantinho empoeirado da memória.
Em meio a esse balanço emocional, onde lucros e prejuízos se enroscam, surgem aquelas velhas desculpas, as esfarrapadas: ‘Foi a vida que nos separou’... ‘Tomamos rumos diferentes’... ‘Mudamos de cidade, de Estado, de país’... ‘Casamos, descasamos’... ‘Temos interesses diferentes’...
Desculpas, só isso.
Na verdade, vivemos correndo atrás de minutos e nem sentimos que, não só as horas, mas, com elas, os anos passam rápidos demais. Permanecemos paralisados por uma teia poderosa tecida pelos chamados compromissos inadiáveis... e o que é realmente importante acaba ficando para trás.
Perdemos tempo demais projetando o futuro e, quase sempre, esquecemos de viver o presente... Pense em quantas vezes, nos últimos tempos, você não planejou fazer alguma coisa, nem que seja um café com um amigo pra colocar o papo em dia, dar risada, falar dos outros, descontrair,... e ficou só nos planos porque ‘as urgências do momento’ impediram?... Mas, o que pode haver de mais importante do que ‘perder um tempo’ com o que lhe dá prazer?
Trata-se de uma escolha. Ser protagonista, entrar em cena e correr os riscos do improviso num espetáculo não ensaiado; ou se portar como um espectador passivo e ver a vida desfilar no palco mais próximo.
Bem disse John Lennon: ‘a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos’.
Pois é! Projetar o futuro, ter objetivos claros, traçar metas realistas, visualizar o que se quer, é importante. Mas, nesse planejamento tem que caber os pequenos prazeres... Aqueles que nos enchem de emoção, alimentam a alma e renovam as energias. Afinal, estamos nesse mundo para ser feliz. E isso é o que mais importa... O resto... a gente sempre dá um jeito. Por isso, não seja negligente com o tempo. Ele é implacável! Vai e não volta mais...
Agora, se você perdeu o primeiro trem, não lamente. Apenas se prepare para embarcar no próximo, que já desponta ali na curva. E, boa viagem!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eu amo São Paulo

Hoje, 25 de Janeiro, São Paulo completa 457 anos.
Resistente, a cidade que é chamada por muitos de ‘selva de pedras’ precisa apenas de um olhar mais atento para que se perceba que por trás da dureza aparente há uma beleza delicada que é só sua.
Ruas, alamedas e avenidas exibem mais do que asfalto e concreto. Ostentam árvores imponentes e de incontáveis espécies. As antigas e raras, as que pintam a paisagem com suas flores coloridas, outras que apenas oferecem sombra e abrigo, e aquelas que alimentam com seus frutos bandos de sabiás, maritacas, andorinhas, bem-te-vis e outras muitas dezenas de pássaros.
Pássaros cujo canto forte ainda consegue se sobrepor ao barulho ensurdecedor de motores acelerados, buzinas, zumbidos, falas, gritos...
A arquitetura arrojada ergue edifícios cada vez mais altos, modernos, inteligentes..., obras de arte contemporâneas que se misturam harmoniosamente a prédios históricos, com muito charme.
Isso é São Paulo... terra de contrastes, que não esconde as suas mazelas e que, do seu jeito, segue sempre em frente. Não para... Se movimenta a passos largos, na cadência de mais de 10 milhões de pessoas... Um mar de gente que se esparrama, como ondas, enchendo de vida ruas, praças, parques, avenidas.
Gente... muita gente, de todos os cantos do Brasil e do Mundo. Gente que fez e faz de São Paulo o que ela é: um mix de sotaques, costumes, culturas. Uma mistura exótica que forma o estilo de ser e viver da cidade.
São Paulo é terra de oportunidades, de trabalho, de esperança, sonho,... de desafios.
Pródiga pra uns, dura, muito dura, com outros...
Cidade grande... que atrai, ilude, assusta, surpreende, deslumbra... frustra.
Metrópole cosmopolita que não para, não dorme... São Paulo é única.
À primeira vista é frenética demais, agitada demais, confusa demais... Caótica, desenfreada, enlouquecida! Feia pra uns, linda para muitos. É rica, histórica, moderna, intelectual, esportiva, alegre, séria. Uma cidade viva, extrovertida, carrancuda, sentimental, romântica... Depende da disposição de quem a olha.
É paulista, italiana, japonesa, judaica, portuguesa, espanhola, árabe, latina, mineira, nordestina, brasileira... É acolhedora.
É terra de toda gente, terra de todos nós.
São Paulo é grandiosa em números, índices, valores. Mas, sua grandiosidade aparece mesmo é no tamanho do seu coração e na generosidade de seu povo.
Eu amo São Paulo. E você?