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segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu só queria ver a Portela...

Ontem dei uma passadinha pela rede Globo pra ver a transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Queria ver a Portela.
Fiquei impressionada com a transmissão, mas não positivamente.
É praticamente impossível acompanhar o desfile tamanho o número de interrupções de apresentadores, convidados, repórteres. Um querendo passar mais ‘conhecimento’ do que o outro. Um atropelando o outro para mostrar familiaridade/intimidade com os ‘famosos quem’... Muitas entrevistas-relâmpago do tipo: ‘estou aqui com fulano/fulana que acabou de desfilar’... e a inevitável pergunta/afirmação ‘é muita emoção, né?’... Comentários óbvios: ‘olha que lindas as cores dessa ala’... Eu to vendo! Não precisa dizer que tem amarelo, laranja, azul, verde...
Além, é claro, das explicações do enredo: ‘essa ala representa...’, ‘olha o carro que traz...’, ‘a fantasia das baianas mostra...’.
E não para por aí, tem que ‘explicar’ também a coreografia da comissão de frente e seu ‘significado’ dentro do enredo!!!! E pensar que as imagens deveriam ‘falar por si’!... Achou que acabou? Engano... transmissão que se preze tem que ter as ‘apresentações’: ‘taí o mestre da bateria...’ ‘olha aí o primeiro casal de Mestre Sala e Porta-Bandeira’... ‘essa é a rainha da bateria’ (sem falar que tem legenda na tela!!!). E tudo na base do grito, porque o som da bateria é poderoso (pena que não o suficiente para nos poupar de tanta besteira).
É tanta falação inútil que é quase impossível acompanhar a letra do samba – nem mesmo quando aparece no vídeo... Porque nessa hora, é obvio, vem mais ‘esclarecimentos’. Haja! Dá vontade de tirar o som. Aliás, com tanta tecnologia disponível, deveria haver a possibilidade de um segundo canal de som – direto da passarela, sem os apresentadores.
Eu já começo a lutar contra o sono... Tento bravamente vencer a tentação de desligar a TV, virar de lado e dormir, porque eu quero ver a Portela!
Mas o show continua deixando a desejar...
A direção de imagem é alucinada e alucinante, mal dá pra curtir alguns detalhes. É um tal de corta aqui, passa pra lá, retorna acolá, que quem está assistindo fica sem saber em que parte o desfile está. Isso sem falar dos closes nos destaques e naquele bando de ‘celebridades’ que só os iniciados na ‘arte dos barracões’ ou os seguidores de realities shows conhecem... Os realmente famosos aos olhos do mundo (e do resto do Brasil) são poucos...
Aí eu pergunto: pra que tanta explicação, por que tanto frenesi? O que interessa é ver a escola, ouvir o seu samba – se possível cantar junto- curtir o colorido do conjunto, achar bom ou ruim e torcer para que a sua preferida ganhe... Pouco me interessa o enredo – mesmo porque normalmente eles não tem pé nem cabeça (salvo quando homenageiam algum personagem). Pouco me interessa quem é quem naquele palco improvisado; deixem que eu mesma reconheça os que têm alguma relevância – caso do Paulinho da Viola, que deveria dispensar apresentação.
Na minha modesta opinião, as escolas de samba – sejam do Rio ou de São Paulo, estão pasteurizadas, mecanizadas, burocratizadas. Sai uma, entra outra e parece uma coisa só. Até os sambas são semelhantes na melodia, no andamento; tente cantar a letra de um com a música de outro, é bem provável que você consiga. Os desfiles são engessados, regrados, quase monótonos – tudo tem que ser perfeito para agradar aos juízes. Os integrantes – em número cada vez maior – perderam a espontaneidade . Alguns, passam quase correndo; outros estão tão ocupados segurando chapéus e adereços que esquecem até de se divertir na passarela; muitos nem cantam o samba.
A criatividade, a ousadia, a crítica inteligente ficaram para trás (lembra dos desfiles polêmicos do Joãosinho Trinta?). As pessoas comuns que brilhavam ao mostrar suas maestrias e habilidades se transformaram em meros coadjuvantes sem a menor importância. Perderam para as figurinhas carimbadas da mídia em geral que tomaram os postos de reis e rainhas de quem realmente tem a majestade.
Por um punhado de grana – que enriquece uns poucos e não muda nada para a grande maioria que vive o dia a dia das escolas – transformaram a mais pura manifestação da criatividade popular em um espetáculo industrializado e quase patético. Os desfiles das escolas de samba não são mais para o público em geral – seja desfilando ou pagando ingresso. Eles acontecem apenas para ser exibidos pela TV, cuja transmissão é, também, cada vez menos preocupada com o publico espectador e mais com o massagear de egos de apresentadores, repórteres e convidados especiais.
Ah... eu comecei dizendo que queria ver a Portela. Juro como tentei. Mas, diante da xaropada da transmissão, cochilei no meio do primeiro desfile, perdi a segunda apresentação e só consegui acompanhar alguns momentos da famosa escola em azul e branco.
Conclusão: o auto-denominado ‘maior espetáculo da Terra’ não passa de um show pra boi dormir!

Um comentário:

  1. Tenho as mesmas impressões que você sobre a maioria dos temas. Sinceramente não sei como eles conseguem fazer os cortes daquela maneira. É como comer pipoca doce na eterna esperança de achar a mais doce do pacote. Vejo ao longe aquela ala que parece linda e gostaria de olhar melhor os detalhes, mas aí a imagem muda para um carro que já havia passado há tempos ou que ainda nem entrou completamente na avenida. Fico completamente perdido sem entender ao certo se pularam aquela parte do desfile que eu queria ver. Daí passam-se intermináveis minutos fixos em algumas coisas enquanto que para outras restam apenas segundos. Quando você se dá conta, a escola já está em disparada para cumprir o tempo e depois de tanta pipoca, fica faltando a doce de verdade.

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